domingo, 31 de outubro de 2010

A Balsa

Olá queridos, que a paz de Cristo esteja com vocês, na balsa ou não!

Sou apaixonada por essa terra abençoada por Deus, todas as vezes que perguntam onde nasci respondo o seguinte:

- Nasci em Porto velho (RO), mas sou acreana!

Uma das coisas que me fascina é a linda e rica história (com h) desse povo que lutou para ser brasileiro, confesso que todas as vezes que ouço o hino acreano meus olhos chegam a marejar de lágrimas devido a intensidade de sua letra. Também adoooro as expressões locais, e uma que sempre chamou minha atenção foi essa história da balsa.

Aqui é costume dizer quando um voto é vencido, que o candidato foi para a Balsa, ou seja, "pegar balsa" significa perder uma eleição. A história dessa balsa é bem humor negro, um misto de brincadeira com pitadas de ironia...

Encontrei um texto esclarecedor, de autoria do marqueteiro Gilberto Braga, da Companhia de Selva, sobre nossa folclórica balsa:

"Esta é genuinamente acreana: pegar balsa significa perder uma eleição. É um misto de brincadeira, chacota e vingança do povo acreano contra os seus políticos. Quando um candidato perde uma eleição, diz-se que ele “pegou balsa”, ou “embarcou na balsa de Manacapuru”. Isso pode ser dito de forma branda, com tom de brincadeira, mas pode ser dito ou entendido como uma ofensa terrível, uma humilhação a mais para quem já saiu humilhado das urnas.

Segundo o folclore político local, depois de cada pleito eleitoral a balsa pra Manacapuru parte do Porto da Gameleira.
Os candidatos derrotados embarcam acompanhados dos assessores e cabos eleitorais mais importantes. O momento mais dramático da viagem dá-se lá longe, já depois da Boca do Acre, quando a balsa cruza a curva que descortina o Estado do Amazonas e aí se aproxima um cardume de surubins para chorar em torno dos perdedores, que surubim é peixe que chora e chora alto. É uma tristeza, um desconsolo sem tamanho. Pegar a balsa e ouvir o choro do surubim é o pior instante da carreira de qualquer político acreano.

Essa história da balsa é tão divertida quanto cruel, pois quem vence e é festejado numa eleição, pode muito bem comandar a balsa do pleito seguinte. Estando na política, é difícil evitar essa viagem. O sujeito perde a eleição e no outro dia não pode sair nas ruas, as pessoas, os amigos, as crianças lhe abordam:

- Pegasse balsa, heim? Depois me conta como é o choro do surubim.

E o pior vem nos jornais, com charges de páginas inteiras, mostrando a balsa repleta de candidatos vencidos, a maioria de passageiro, alguns ainda pior, ralando como tripulante, outros resistindo ao embarque.


Única, original e absolutamente integrada à cena política do Acre, descrita e comentada por toda população, a balsa é uma manifestação cultural impressionante, a mais genuína contribuição acreana ao folclore político nacional.

Consta que a história da balsa vem de tempos priscos.
Li que o professor Marcos Fernandes, da Universidade Federal do Acre, descobriu que essa história começou ainda no começo do século. Em 1920 o Governo Federal teria destituído o prefeito do Departamento do Alto Acre, como se fosse pouco, mandou também deportar o alcaide em desgraça. A ordem foi cruel: embarcar o homem numa balsa de propriedade do Governo, largando-o abandonado na primeira curva após o Rio Acre entrar no Estado do Amazonas.

Documentos constantes do acervo do saudoso senador Guiomard Santos, ex-governador do território e patrono da elevação do Acre à condição de Estado, confirmam a longevidade da balsa, da qual, aliás, nem o próprio Guiomard escapou. Os alfarrábios de Santos registram a existência da balsa na década de 50, com jornais locais da época anunciando com entusiasmo o embarque do delegado Aluizio Queiroz, que teria levado uma sova nas urnas em respostas a sua suposta truculência.
Queiroz, no entretanto, resistia, declarando: “não subo na balsa para não viajar em companhia de alguns desafetos políticos”. Mas foi, o que já é um registro inconteste da condição de instituição democrática e popular da balsa.

Mas o folclore político nacional deve creditar o mérito da afirmação dessa fantástica contribuição acreana, ao cronista Aluizio Maia. A partir do fim dos anos 60, ela firmou-se com seus artigos bem humorados, anunciando a preparação da balsa durante as campanhas eleitorais e, depois das eleições, fechando sua ilustre lista de passageiros. Aluizio também teve o mérito de definir os pontos atuais de partida e de chegada da balsa. Se no primeiro registro dos anos 20 ela largou um solitário passageiro após a primeira curva do Rio Acre no Estado do Amazonas, modernamente parte lotada do Porto da Gameleira, na margem direita do rio, no 2º Distrito da capital Rio Branco, com destino a bucólica cidade de Manacapuru, Amazonas.

Mas agora a balsa se materializa muito além dos artigos de Aluizio. As charges dos jornais são esperadas, repercutidas na televisão e multiplicadas em cópias xerox ou reproduzidas nas gráficas de Rio Branco, para alegria do povo e desespero dos ilustres passageiros, que, por vez, reproduzem o choro triste do surubim".

Bom meus queridos, se surubim chora ou não é algo que não sei dizer, mas uma coisa eu sei: eu choro de rir com essa balsa! Como não poderia deixar de ser, eis a Balsa para Manacapuru 2010:


E aí, teu candidato foi para a Balsa ou não?

Uma ótima semana a todos!



Novo velho horário

Olá queridos, que a paz de Cristo esteja com todos nós!

Fim de eleição, mais um ciclo que se encerra. Nas bandas de cá assim como no restante do país as discursões foram acaloradas, cada qual defendendo seus candidatos com unhas, dentes, dedo no olho, golpe baixo, palavras de baixo calão...Valia tudo, até meter as mães no meio.

Well, Dilma foi eleita como previsto, boa sorte para ela (apesar de eu não ser sua eleitora).

E parabéns a Marina Silva, por mostrar que ética, inteligencia, serenidade e até uma boa dose de elegância nas maneiras alavancaram uma campanha que muitos consideravam uma "galinha morta", parabéns porque foi um ótimo exemplo de como se faz uma campanha limpa, honesta e com clareza de idéias sem apelar para a baixaria. Espero que os futuros presindenciáveis, governadoráveis e outros "áveis" mirem-se nesse exemplo.

Aqui onde o vento faz a curva não teve segundo turno para o governo de estado, somente para eleger presidente e um referendo sobre o fuso horário. É sobre isso que quero abordar mais.

A questão do fuso horário do estado gerou muitas polêmicas. O Acre e algumas cidades do sul do Amazonas eram os únicos a ter uma diferença de 2 h em relação ao horário de Brasilia. Alguém então achou que era a hora de diminuir esse "atraso" em relação à Brasilia, e assim, voilá, agora temos apenas 1 hora de diferença em relação à Brasilia. O sol demora a aparecer e tarda a desaparecer no horizonte das terras chico mendianas, onde, segundo estudos, o vento faz a curva...

Por conta da mudança empurrada goela abaixo da acreanada, alguns horários de instituições tiveram que ser modificados, p ex, o horário de entrada nas escolas. Claro, o povo chiou.
E por conta do chiado dos acreanos houve mobilização do pessoal de cima para tentar reverter a situação. Bem, o resultado foi esse referendo. E a vontade soberana da maioria triunfou nesse dia nublado de inverno amazônico, teremos um novo horário: o velho horário.

Foi simples: quem era a favor de manter o horário atual votou no 55 e que era contra votou 77.


É, não foi só o Serra que foi na balsa para Manacapuru*...

Um abraço, ótima semana a todos!

*Explicarei essa expressão em um post.